Tédio e Amor: A história do Memórias em Contos.
- memoriascontos
- 21 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de dez. de 2024
Por André Shimizu.
Em meados de 2024 ouvi um podcast que explicava o papel do tédio na humanidade. De forma simplificada, foi defendida a ideia de que o tédio é um sentimento que contribui para a criatividade das pessoas, fazendo com que elas expandam seus conhecimentos e métodos para cumprir com tarefas. Talvez isso se torne um pouco mais claro ao olharmos para as crianças que, facilmente, ficam entediadas e começam a meter as mãos e a cabeça em qualquer canto da casa; que conseguem se divertir criando mil e uma brincadeiras com uma bola ou com um bichinho de pelúcia. Ou então, se pensarmos num adulto que trabalha com uma atividade repetida, o tédio logo fará com que ele ative seus neurônios e pense se não há uma forma mais eficiente ou mais divertida de cumprir sua tarefa. Se a necessidade é o pai da inovação, talvez, o tédio seja a mãe.
Falando um pouco de mim; no segundo semestre de 2024 eu deixei o tédio me levar. O contexto era propício para tal; havia terminado a faculdade em Junho e sabia que queria prestar o mestrado no final do ano. Durante esse meio tempo decidi refletir mais a fundo o que gostaria de fazer da minha vida profissional. Uma reflexão difícil, longa, de passos muito curtos e muitas vezes sem rumo. Nesse árduo processo comecei a me deparar com algumas características da minha pessoa: sou alguém que gostaria de sempre trabalhar por um propósito que acredito. Não consigo me imaginar trabalhando em qualquer lugar simplesmente pelo dinheiro mas quero, de alguma forma, sentir que o que eu faço contribui para um mundo melhor. Bom, vou ser sincero e reescrever essa frase de um jeito menos bonitinho: eu sinto uma gigantesca preguiça de trabalhar com o que não vejo propósito. E esse idealismo (ou preguiça, se preferir chamar assim), juntou-se com um momento da vida adulta que preciso encontrar alguma forma de ganhar dinheiro, afinal, boa intenção não paga conta.
A vontade de fazer algo com propósito somado com os desafios da vida adulta me levaram a um grande tédio. Eu não sabia o que queria fazer. E esse tédio me fez olhar para dentro de mim por semanas, meses, tempo em que fui descobrindo pouco a pouco o tipo de trabalho que gostaria de exercer. Tive que pensar no que sou bom; no que vejo propósito; no que me dá prazer. Isso tudo foi um grande olhar para dentro de mim mesmo, mas também refleti sobre o que as pessoas valorizam a ponto de investirem seu dinheiro e em que tipo de atividade caberia fazer junto à rotina do mestrado. Aos poucos respondi cada uma dessas perguntas: amo escrever e conversar com as pessoas; adoro ouvir histórias e conhecer pessoas profundamente; sei que as pessoas valorizam seus afetos, amizades e amores; sei que a história de cada um é única e tem um valor infinito. Após muitas reflexões e conversas com amigos e familiares, cheguei ao primeiro modelo de negócio do Memórias em Contos: convidar as pessoas a presentearem quem amam com o que elas possuem de mais precioso, isso é, suas memórias juntas!
Bom, eu poderia resumir essa história de outra forma: o Memórias em Contos é fruto do meu tédio. Esse resumo soa pejorativo, quase como um deboche, mas hoje aprecio mais a beleza do tédio. O Memórias em Contos é fruto de uma profunda reflexão sobre o que eu gostaria de fazer, sobre as minhas habilidades, prioridades, história, prazeres e sobre minha fase de vida. O tédio me fez perceber inquietações e anseios da minha alma. E isso só foi possível porque, ao ter a oportunidade, eu me abri a ele em vez de correr loucamente atrás de atividades para preencher meu tempo livre.
Talvez o urgente descanso que a nossa cansada sociedade precise passe pelo tédio. Talvez o tédio seja o primeiro passo para descobrirmos os anseios mais profundos da nossa alma.
Mais tédio, menos ansiedade. Essa é minha Memória em Conto.